Futebolítico #23 - Maradona e a ferida napolitana

O confronto das meias-finais teve três dias inteiros de aperitivos. Maradona, igual a si mesmo, puxou a si o crédito que tinha em Nápoles e tentou virar os napolitanos contra o país que os discriminava durante 364 dias por ano. A cidade tremeu. Ficou dividida. Maradona estava a brincar com fogo mas não era a primeira vez. Quatro anos antes, fez questão de tornar o jogo dos quartos de final com a Inglaterra um assunto de estado. A Guerra das Malvinas ainda estava fresca na memória e o golo do século, aliado à mão de Deus, foi uma vingança servida fria no calor abrasador do Azteca. Agora, em Nápoles, Diego quis semear a discórdia e inflamar as assimetrias políticas internas em Itália para garantir um ambiente hostil à própria Itália ou, pelo menos, e ao contrário do que tinha acontecido até então, impedir que os argentinos continuassem a ser desrespeitados em qualquer estádio que entrassem.

Pedro Barbosa